A Rede Usina Geradora de Cultura
A partir daqui, a nossa publicação, após uma breve contextualização de nossas referências que representam nossos pioneiros, narrará as circunstâncias que levaram a formação; a trajetória e a legitimidade de um território cultural gestado por uma rede de artistas, agentes culturais, produtoras e produtores; autônomos e independentes.
Fachada do Ponto de Cultura NINA (2009-2012)
Roda: Tia Nice do Acarajé e gestores públicos (Maio/2009)
Reunião: comissão estadual de Pontos de Cultura (Agosto/2011)
Encontro Nacional de Contadores de Histórias II Vila de Histórias nas Terras do Boi Falô (Julho/2009)
Conversa com o público após apresentação da peça Sinfonia para Ninguém Ouvir, direção de Tiche Vianna / Barracão Teatro e Ponto de Cultura NINA (Maio/2011)
A Gênese
No início de 2013, após ter entregue as chaves do barracão que tinha como sede, numa região periférica da cidade – Jardim Bandeira 2 , o Ponto de Cultura NINA (Associação Núcleo Interdisciplinar de Narradores e Agentes Culturais), no intuito de expandir e transversalizar ações em rede, encabeça uma ideia e convida grupos parceiros, que tinham seus ensaios e apresentações na sede da NINA, para uma empreitada coletiva, cultural e de viés comunitário: dar ocupação e dinâmica a um dos barracões abandonados existentes no complexo ferroviário.
– Em abril de 2013, acontece num sítio em Joaquim Egídio, um seminário/imersão desses coletivos para o alinhamento de missão, planejamentos, mapeamento das ações, perspectivas, etc. Foi então formada a Rede Usina Geradora de Cultura.
– Algumas reuniões. Engenheiros, arquitetos, técnicos patrimoniais, historiadores da Secretaria de Cultura e o então Secretário de Cultura, Sr. Ney Carrasco, estiveram conosco a caminhar pelo complexo ferroviário à procura de um espaço que pudesse abrigar a Rede. Foi então que encontramos um pequeno conjunto de salas abandonadas, onde antes funcionou a Usina Geradora Termelétrica do complexo ferroviário, então passamos a adotar esse nome para o nosso coletivo: Rede Usina Geradora de Cultura.
O seminário no sítio – Joaquim Egídio (Abril/2013)
A Usina Geradora
– No entanto, quando da limpeza do espaço, não nos foi possível a nossa entrada, pois o mesmo se encontrava sob jurisdição de uma empresa concessionária federal e os trâmites para a nossa ocupação ficou de difícil acesso.
– Após algumas caminhadas à procura de um espaço que abrigasse a Rede e com o apoio da Coordenadoria da Estação Cultura, encontramos um adequado à ocupação: um galpão pertencente ao que hoje chamamos “pavilhão da cultura”, onde originalmente – o prédio data de 1906 – funcionava a Casa de Carros. Este então recebe o nome de “Sala dos Toninhos” – homenagem a dois dos Toninhos que fizeram parte da história de Campinas: Toninho, o escravo que ouviu o boi falar, segundo lenda local; e Antônio da Costa Santos, o Toninho do PT; o prefeito assassinado, primeiro a idealizar o projeto da Estação Cultura; que leva o seu nome.
– No período de maio a julho de 2013 a Rede realiza a reforma da Sala dos Toninhos, em toda a sua parte elétrica, limpeza e pintura e consegue reunir equipamentos trazidos pelos coletivos, transformando a sala em um teatro aconchegante e alternativo apto tanto a abrigar grupos artísticos em suas pesquisas, quanto em receber companhias teatrais para temporadas de apresentações.
– Os grupos que formam a Rede passam a ensaiar na Sala dos Toninhos em agosto de 2013.
– Em dezembro a Rede realiza o evento “Ocupa Estação”, com espetáculos teatrais, intervenções artísticas, cineclube e debates.
Reforma (Maio/ 2014)
Desde então, essa Rede é que faz a gestão do espaço Sala dos Toninhos; um espaço de efervescência cultural para uma ampla comunidade PRODUTIVA e CONSUMIDORA (DE CULTURA!) e atenta às suas expressões criativas e às transformações advindas.
Sala dos Toninhos / Rede Usina Geradora de Cultura
A Rede Usina Geradora vem promovendo, desde 2013, temporadas mensais de teatro na Sala dos Toninhos. A partir da estreia do espetáculo “Opereta Barata”, criação dos grupos Invenciones Imaginarias, Matula e Boa Companhia, criamos um calendário de artes cênicas regular que instigou a formação de público ávido por experiências artísticas e envolvimento com o espaço. A arte cênica é sua primeira e principal vocação: ser sede de pesquisa e montagem teatral para grupos, clãs e cias de teatro dos mais variados perfis que borbulham na cidade e na RMC. Grupos e cias teatrais ensaiam e se apresentam nele em temporadas.
Porém, a vocação vai além: a Toninhos atrai e se traduz por diversas linguagens e expressões artísticas e culturais produzidas por seus gestores cotidianos e as vindas dos diversos cantos da cidade e da RMC, à procura de seu espaço também na região central da metrópole; no coração da cidade. São coletivos de danças urbanas, grupos e cias de teatro, culturas de rua e periférica; de música, VJ’s, poetas, cultura tradicional, cinema experimental, música independente, saraus literários, cultura LGBTQIA+, festivais, patrimônio, artes plásticas, fotografia, cultura negra, grupos, associações, produtores e produtoras culturais das diversas linguagens que encontram e se veem num território acessível, livre e criativo. Esta Rede proporciona que um número considerável de pessoas tenha acesso garantido ao processo de formação cultural e, também, cuida de oferecer oficinas regulares e esporádicas de iniciação teatral para jovens e adultos, oficinas de artes circenses, teatro de bonecos e mamulengos, cinema experimental, produção cultural, artes plásticas, ritmos afro campineiros, contação de histórias, iluminação cênica, etc.
Atelier da Estação
Interação entre os coletivos Socializando Saberes, Damião e Cia de Teatro e os Pontos de Cultura NINA e Quintal Garatuja
Ruffneck Sound System
Samba da Vila; idealização do Ponto de Cultura NINA
Coletivo Salvaguarda Capoeira – Samba de Tiririca
Terreno
A Sala dos Toninhos configura-se como um espaço multiuso que, além de um teatro com capacidade para até 120 pessoas, onde acontecem as Temporadas Teatrais, compreende um jardim-terreiro externo (local que abarca parte da programação que acontece no pequeno complexo Sala dos Toninhos), um pequeno barracão de madeira, banheiros, uma cozinha e, por fim, um amplo hall de entrada (um salão multiuso), anexo ao teatro, também com pé direito alto e medindo 160m2; hoje é uma galeria e abriga a exposição Memórias Geradoras – uma exposição da Sala dos Toninhos.
Abertura Expo Memórias Geradoras (Dezembro/2022)
Oficina teatro (Agosto/2014)
Histórias da Estação” – Cia Vagantes (Outubro/2015)
Samba da Vila (2016)
Uma gestão orgânica; uma rede abrangente
Desde a sua formação, coletivos, grupos e artistas passaram pela gestão direta e cotidiana da Rede Usina/Sala dos Toninhos. Outros vieram; outros virão. Portanto, para além do perfil de gestores cotidianos do espaço, grupos e coletivos vindos de outros territórios, com suas atividades criativas e formativas, formam uma camada significativa na Rede. O envolvimento desses grupos e coletivos promove constante e efetiva circulação e, somado ao envolvimento dos coletivos gestores permanentes (cotidianos), gera consequências: um potente e diverso fluxo produtivo e o povoamento do espaço, o que legitima definitivamente o uso de patrimônio público: fazendo-o PÚBLICO para o PÚBLICO. Todos se reconhecem nessa construção.
Instituições formalizadas e de prestígio público também buscam o espaço para acomodar algumas de suas investidas culturais; as principais são: FEVERESTIVAL (Festival Internacional de Teatro), SESC Campinas (Bienal de Dança), Departamento de Artes da Unicamp (dança, teatro) e Prefeitura Municipal de Campinas / Secretaria de Cultura.
Desta forma, a Rede Usina / Sala dos Toninhos vem garantindo o acesso democrático e indiscriminado da população a bens culturais, a revitalização de espaços públicos no centro da cidade, e o sentimento de pertencimento e de cidadania, tanto de quem produz cultura, quanto de quem a consome.
Nesses 10 ANOS, completados em 2023, a Sala dos Toninhos e sua mantenedora, a Rede Usina Geradora de Cultura, vem sendo referência para representantes das mais variadas manifestações artísticas-culturais da cidade, e com muita honra, sendo reconhecida por outros grupos, associações culturais, comunidade e, com esses, nossos pioneiros, consolidando parceria… na cidade, no Brasil e além fronteiras
RE-VOLTA! DOS TONINHOS (Junho/2022)
Estimamos que os projetos que a Sala dos Toninhos/Rede Usina Geradora (incluindo a frente ‘TEATRO’ e todas as outras) abarca e, também, os que partem do seu corpo gestor, atraíram diretamente cerca de 55.000 de público, desde a inauguração, até aqui.
“Opereta Barata”, Grupo La Bruja Invenciones Imaginárias/Matula e Boa Compania (Agosto/2014)
Os Toninhos
Toninho em ocasião da reabertura da estação para a Cultura
A Sala dos Toninhos homenageia dois personagens de distintas épocas. Eles, por meio de suas ações e empenho, traduzem a vocação desta cidade em produzir, atrair e desvendar resistências desde a chegada das guerreiras e guerreiros; muitos diluídos na paisagem – nobres anônimos revolucionários que aqui aportaram em épocas remotas e deram início a gerações e gerações de inconformados rebeldes, líderes astutos, agentes comunitários, matriarcas, estrategistas, líderes culturais, Mestres e Mestras, ícones locais, resistentes visionários que por aqui estiveram e estão a seguir esse legado… sempre estarão!
Toninho, o escravizado que ouviu o boi falar, reivindicando seus direitos de descanso e devoção para, após sua morte, a lenda se fez e, a mando de “seu” barão, se tornou ocupante de área nobre e, hoje, goza às honras de um santo popular milagreiro consagrado pelo povo…
Toninho, o prefeito que lutou para que a vocação do complexo ferroviário de Campinas seguisse seu papel histórico, para que o povo retornasse a ter livre acesso a este patrimônio público construído pela classe trabalhadora e para que grupos culturais pudessem fazer dele um espaço de visibilidade dos seus repertórios artísticos, sociais, políticos, estéticos, em especial os produzidos pelas comunidades situadas na periferia da cidade. Essa é a maior vocação da Estação Cultura, ser um território do protagonismo comunitário popular e das lutas da classe trabalhadora
Composição e Edição:
Everaldo Cândido
Neander Heringer
Fotos:
Neander Heringer
Textos:
Alessandra Ribeiro
Everaldo Cândido
Marcelo Ricardo
Marcos Brytto
Maria Cecília Campos
Diagramação
e arte final:
Lucas Titon
Executivo:
Lerrania Lima
Produção:
Ponto de Cultura NINA
Realização:
Rede Usina Geradora de Cultura
Parceria:
Casa de Cultura Fazenda Roseira &
Jongo Dito Ribeiro
Apoio:
Mandato da Deputada Federal Leci Brandão
Produzido no 2º semestre de 2022 pela Rede Usina Geradora de Cultura e Ponto de Cultura NINA.
Contatos – Emails: somostoninhos@gmail.com & ninaemrede@gmail.com | Fones: (19) 98422.3244 & (19) 98453.2050